Farinha de banana verde e plantas ajudam a reduzir inflamação intestinal
Hoje viemos, postar uma
matéria sobre uma pesquisa feita numa universidade brasileira – a Universidade
Estadual de São Paulo (UNESP). Trata-se de um estudo com produtos naturais que ajudam
a diminuir a inflamação no intestino. A reportagem foi feita por Diego Freire, com
autorização de reprodução. Confira!
Uma pesquisa realizada no Instituto de Biociências da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP), constatou a eficiência de produtos
naturais derivados da flora brasileira no tratamento das doenças inflamatórias
intestinais (DII), como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn. O estudo
apresenta ainda novos marcadores moleculares que podem ampliar a compreensão
que se tem dessas doenças, cuja etiologia ainda é desconhecida.
“Trata-se de um projeto que consideramos audacioso por estudar tanto a
doença em si, priorizando alvos moleculares da ação de fármacos clássicos, como
alvos farmacológicos para novos produtos, como as cumarinas naturais e algumas
plantas medicinais”, disse Luiz Claudio Di Stasi, responsável pela pesquisa ‘Doença inflamatória intestinal (DII): novos marcadores moleculares e atividade anti-inflamatória intestinal de fármacos e produtos de origem vegetal',
realizada com apoio da FAPESP.
Entre os principais resultados está a descoberta de que uma dieta com
farinha de banana nanica verde pode impedir a inflamação intestinal em roedores.
“Consideramos a importância da microbiota intestinal na proteção contra o
processo inflamatório para propor o estudo de alguns produtos naturais
adicionados à dieta, que reunissem a capacidade de modular a microbiota
intestinal previamente e agissem na prevenção das recidivas dos sintomas da
retocolite ulcerativa e da doença de Crohn”, disse Di Stasi.
O grupo coordenado pelo pesquisador estudou vários agentes prebióticos –
fibras que servem de “alimento” para as bactérias intestinais benéficas, ajudando
a organizar a flora intestinal –, como a polidextrose e as fibras da banana
nanica (Musa spp AAA) verde, do jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa) e da
taboa (Typha angustifolia).
O extrato da casca do caule do jatobá-do-cerrado e a farinha da polpa da
fruta apresentaram ação anti-inflamatória em ratos com inflamação intestinal
induzida por ácido trinitrobenzeno sulfônico (TNBS). De acordo com os resultados publicados no Journal of Ethnopharmacology, “os
efeitos farmacológicos estão relacionados à presença de compostos antioxidantes
no extrato, como flavonoides, taninos condensados e terpenos na casca e na
polpa de frutos de jatobá-do-cerrado”.
O projeto também estudou várias concentrações da farinha produzida com o
caule da taboa, planta aquática muito comum no Brasil, típica de brejos,
manguezais e várzeas. Verificou-se que, quando a farinha compõe 10% da dieta,
há uma redução na lesão provocada por DII, com efeitos nas aderências de órgãos
adjacentes e na diarreia.
Esses efeitos estão relacionados à inibição de marcadores bioquímicos de
inflamação colônica, como a atividade das enzimas mieloperoxidase, liberada em
resposta a invasões microbianas, e fosfatase alcalina, que inibe o crescimento
de bactérias intestinais que estimulam a inflamação e impedem a translocação de
microrganismos para a corrente sanguínea, além de uma atenuação das atividades
da glutationa, um antioxidante hidrossolúvel.
“A farinha do caule da taboa demonstrou ser tão eficaz quanto a
prednisolona, fármaco do grupo dos anti-inflamatórios esteroidais utilizado
atualmente no tratamento de DII, com a vantagem de não apresentar efeitos
adversos e colaterais”, destacou Di Stasi. Os estudos com a planta foram
descritos em artigo publicado na BMC Complementary and Alternative Medicine.
Em outro grupo de experimentos, o projeto estudou diferentes cumarinas
naturais isoladas e, entre os resultados, destacam-se os obtidos com a
4-metil-esculetina, princípio ativo presente nas folhas e raízes de diversas
espécies de plantas, entre as quais as do gênero Mikania, que
incluem diferentes plantas conhecidas no Brasil como guaco.
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A pesquisa, publicada nos periódicos científicos Chemico-Biological Interactions e European Journal of Inflammation, demonstrou que a 4-metil-esculetina produz efeitos semelhantes aos da prednisolona, e seus efeitos protetores estão relacionados à capacidade de reduzir o estresse oxidativo do cólon e inibir a produção de citocinas pró-inflamatórias. A administração de metil-esculetina nos modelos da pesquisa exerceu tanto efeitos preventivos quanto curativos, de acordo com o pesquisador.
Novos marcadores
Como as causas das DII ainda não são claras, uma maior compreensão dos
mecanismos que regulam a integridade da barreira intestinal e de sua função
pode ajudar a entender o modo de ação dos medicamentos atuais usados para
tratamento.
Diante disso, o trabalho também estudou como a expressão da enzima
heparanase, do complexo proteico NF-kB, do gene hipoxantina
fosforibosiltransferase (HPRT) e da proteína HSP70 afeta a inflamação
intestinal induzida por TNBS em ratos e os efeitos anti-inflamatórios dos
medicamentos alopáticos sulfassalazina, prednisolona e azatioprina,
possibilitando o entendimento de novos modos de ação desses fármacos.
“Nossos resultados indicam que a heparanase, o NF-kB, a HSP70 e o gene
HPRT são alvos farmacológicos que devem ser considerados nos estudos de novos
medicamentos para tratar a inflamação intestinal, sendo alvos moleculares
importantes que explicam alguns dos aspectos da etiopatogenia das DII”, avaliou
Di Stasi.
A ideia, de acordo com Di Stasi, é possibilitar a produção de alimentos
funcionais, “agregando valor a esses produtos, que já possuem apelo científico
e comercial, e ampliando as possibilidades de prevenção por meio de sua
incorporação a uma dieta preventiva de recidivas dessas doenças”.
O grupo também pretende aprofundar as pesquisas com as espécies já
estudadas e com as da Amazônia para avaliar se a microflora intestinal foi
modulada, assim como seus metabólitos, além de realizar estudos de sinergismos
com fármacos envolvendo as espécies mais promissoras, apontando novos alvos
moleculares, obtendo dados que podem continuar auxiliando na elucidação da
etiologia das DII e indicando novas estratégias de tratamento e
prevenção.
Fonte: www.agencia.fapesp.br
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