Giselle fez transplante de células tronco, recuperou-se da doença de Crohn e nos conta a sua história
Há algum tempo postamos
um texto sobre o assunto, no qual o paciente Rob está em remissão prolongada da doença
de Crohn após um transplante de células tronco. Esse caso ocorreu no Canadá e
você pode ler essa história dele clicando aqui.
Essa semana está sendo veiculado na mídia brasileira que uma paciente de SP que se recuperou da doença de Crohn após transplante de células tronco. Não digo cura ainda porque precisamos de mais tempo para confirmar isso, mas os resultados que temos até agora são muito animadores.
Essa semana está sendo veiculado na mídia brasileira que uma paciente de SP que se recuperou da doença de Crohn após transplante de células tronco. Não digo cura ainda porque precisamos de mais tempo para confirmar isso, mas os resultados que temos até agora são muito animadores.
A paciente em questão é a
brasileira Giselle Gomes Idalgo, 29 anos, que nos contou a sua história. Acompanhe conosco.
Os primeiros sintomas
“Após uma queda e
fratura no cóccix, me foi receitado anti-inflamatório para ser tomado durante 2
meses. Após uma semana do uso do medicamento, as minhas idas ao banheiro
passaram a ser mais freqüentes, chegando ao cúmulo de não conseguir passar o
dia sem ir em média de 30 a 40 vezes, todas elas com um dos principais sintomas
do Crohn, a diarreia!
Apesar do desconforto, no início, por ignorância
pensei que fosse devido a fratura no cóccix o que me fez demorar em procurar
ajuda médica, porém após mais uma semana, e com o problema se agravando , agora
pela perda de peso devido a desnutrição e já com outros sintomas, como dor
abdominal e sangramento retal, começou o meu calvário a procura de orientação
médica.”
Diagnóstico
“Nos primeiros meses com os sintomas e sem
conseguir um diagnóstico, a minha vida se transformou de uma pessoa ativa com
trabalho de dia e curso de farmácia a noite, passei a ter dificuldades nas
tarefas diárias mais corriqueiras. E o pior de tudo era a ignorância de todos
com relação ao que se passava comigo, pois os médicos diziam que era uma
indisposição e que eu deveria comer “papinha de arroz” para que melhorasse. E
com esse diagnóstico não conseguia me fazer levar a sério quanto a gravidade da
minha situação.
Com aparência
cadavérica, dores nas articulações, dores abdominais e com falta de apetite
tive até diagnóstico de anorexia, com intenção pelo hospital de internação para
tratamento psiquiátrico. Foram quatro meses de sofrimento até ter um
diagnóstico conciso: ‘É Crohn, e vou lhe encaminhar a um gastro,!’ - Essa foi a
notícia do clínico que me diagnosticou, e começaria ali mais uma batalha, e dessa
vez contra um inimigo com nome!”.
O tratamento inicial
Mas novamente a
surpresa veio com a ignorância dos médicos, e desta vez pelos médicos do INSS,
que mesmo com o diagnóstico e com todos os exames que comprovavam que eu estava
doente, teimavam em que eu podia trabalhar e que era “frescura” minha. Estava
com 35 kg, com aparência realmente cadavérica, e lutando para provar que
estava doente. Por fim o afastamento veio e com ele novo fôlego para continuar
a luta.
Após meses de
tratamento apenas com corticoides e sem um prognóstico positivo, resolvi trocar
de médico. Consegui uma indicação para o HC de São Paulo, com um médico melhor
preparado para lidar com o meu caso. Iniciei ali um tratamento com cortisona
(Prednisona) e imunossupressor (Azatioprina), novamente sem a resposta esperada
da medicação.
Sem melhora no meu quadro clínico, fui orientada a
tomar o Humira (Adalimumabe), uma medicação cara que eu recebia do governo.
Eram 4 injeções mensais, com “doses de ataque” em momentos pré-determinados
pelo médico, esperando novamente vislumbrar melhora no meu caso.”
A cirurgia
“Após quase dois
anos de tratamento com o Humira, e ainda sofrendo com todos os sintomas, além
de estar inchada pelo uso prolongado do corticoide, veio a pior das notícias: deveria ser operada para a retirada da parte do intestino que estava
estenosado.
A operação deveria enfraquecer a doença a ponto do tratamento usual com medicação funcionar, e de fato no primeiro mês após a retirada de cerca de 50 cm do intestino, eu comecei a me sentir bem. Cheguei a ganhar um pouco de peso, as dores diminuíram assim como as idas ao banheiro, sempre mantendo o uso de cortisona, Azatioprina e Humira. O alívio durou um mês, e agora tudo voltava agravado pelo fato de estar recém-operada. As dores passaram a ser mais intensas, assim como o sangramento.”
A mudança
“Novamente sem
responder como o esperado ao tratamento, duas mudanças aconteceram em minha
vida. A primeira delas seria em relação a minha luta contra o Crohn, com a
mudança da medicação, sendo substituído o Humira pelo Cinzia. A outra mudança
era algo totalmente irrelevante ao que eu estava passando, mas mesmo eu não
sabendo, iria mudar a minha vida.
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Por intermédio de meu médico em São Paulo, fui encaminhada a um amigo dele, também gastro e com uma clinica em São José. Isso significaria menos viagens para consultas rotineiras, e que continuaria recebendo acompanhamento com alguém capacitado e de confiança. Então em meados de 2012 comecei a me tratar com o Dr. Roberto Kaiser.
A princípio o
tratamento começou rotineiro, sendo apenas mudada a medicação. Não mais tomaria
o Humira, passaria a fazer uso do o Infliximabe, mesmo princípio ativo, porém
com diferença na resposta do tratamento ao Crohn. Cheguei a fazer duas sessões
com o Infliximabe. A segunda delas apresentou uma reação alérgica, com quadro
de parada respiratória. Precisei ser reanimada e entubada para reversão do
quadro.
E assim acabaram as minhas esperanças de um dia
melhorar, pois junto da reação alérgica, veio a notícia que não mais dispunha
de medicação contra o Crohn, além da cortisona e do Azatioprina.
Minha vida agora
passaria a ser de cirurgias para a retirada do intestino, até que nada mais me
restasse além da bolsa de colostomia, prognóstico totalmente devastador para
qualquer um. Não bastasse meu desânimo com relação ao meu futuro, meu presente
já estava sendo afetado pelo uso contínuo da cortisona. Além do inchaço,
tremores nos membros superiores e princípios de alucinações e psicose deixavam
meu futuro ainda mais negro.”
“Já
resignada com meu destino, tive a notícia durante uma das consultas de que
participaria de uma seleção para um tratamento experimental contra o Crohn. O
dr. Kaiser, através do Dr. Milton Ruiz, conhecera do Dr. Richard Burt, chefe da
divisão de Medicina Imunoterápica e doenças auto imunes da Faculdade Feinberg
de Medicina da Universidade de NorthWestern, na cidade de Chicago.
A alegria de ser
cogitada para este tratamento se sobrepôs a quaisquer medos ou inseguranças em
relação aos efeitos colaterais decorrentes. Teria novamente uma chance de lutar
e não mais teria que me sujeitar e ficar a mercê deste fardo. E, assim como a
sorte me sorria a cada má notícia, fui escolhida para ser a 'cobaia'. Dentre
oito candidatos ao tratamento, fui indicada como o pior caso, pois além de uma
vida de cirurgias, não me restava alternativa.
O tratamento se
basearia em transplante autólogo de células tronco e eu deveria me submeter a
um tratamento a fim de estimular a produção de medula possibilitando sua coleta.
Todas as medicações a partir deste ponto foram feitas através de cateter, sendo
necessárias visitas diárias ao hospital para limpeza e troca de curativos.
Neste ponto já não me importava mais, pois tudo isso eram pequenos transtornos
em relação ao benefício que viria a seguir.”
Coleta da medula e quimioterapia
“Após um mês de
tratamento preparatório, era hora da coleta da medula. Foram três dias de
internação para a coleta da medula, que foi realizada no segundo dia. Com a
medula coletada começaria para os médicos o trabalho de separação das células, no
qual só algumas seriam cultivadas em laboratório e reinseridas. Para mim,
começaria a quimioterapia para eliminar as células ruins possibilitando a
melhor ligação das células boas.
As sessões as
quais me submeti para a quimioterapia foram poucas, porém de acordo com os
médicos a dose era 10 vezes superior a do tratamento para a leucemia. O
resultado foi um enjoo leve durante o dia, perda de apetite e a queda de cabelo
característica.
Um mês depois da
coleta da medula, com visitas diárias ao hospital para tomar medicações
diversas, sessões de fisioterapia, troca de curativos e limpeza do cateter, era
hora de ser internada para o transplante.”
O transplante
“No dia 14 de outubro de 2013 foi realizado o transplante da medula. Um procedimento aparentemente
simples quando recebi as células por transfusão que fizeram com que todo meu
corpo esquentasse. Senti um pouco de náusea e dor de cabeça, mas depois de 40
minutos tudo passou.
Nos dias seguintes
me sentia fraca, não queria me levantar da cama, sentia muito sono como se eu
fosse um bebê. Todos os dias os enfermeiros verificavam o meu peso, meus sinais
vitais, mediam o abdômen, faziam hidratação e me davam algumas medicações para dor
de cabeça e dor no estomago.
Não vou dizer que
o período de internação foi fácil. Tive algumas complicações; no meu caso uma
infecção viral na vesícula o que ocasionou sua retirada. Com a eliminação da
infecção a minha melhora foi quase que instantânea. No total fiquei 47 dias
internada e com mais três meses direto de pós transplante, com cuidados
contínuos com a alimentação e higiene.”
A vitória!
“Depois de seis
meses após o transplante fui examinada e não apresento mais indícios de Crohn. As
úlceras em meu intestino estão em remissão, com a cicatrização completa.
Um mês antes do
transplante foi feita uma colonoscopia que mostrava um estreitamento de 16 cm
em meu intestino, hoje eu já não o tenho mais. Os sintomas do Crohn não mais me
perseguem. Há oito meses não preciso mais da cortisona e do Azatioprina, as
dores nas articulações sumiram assim como diminuíram drasticamente as idas ao
banheiro, meu peso voltou a aumentar e apesar de ser mulher hoje fico feliz em
subir na balança e ver que estou engordando.
Tenho sintomas
recorrentes da quimioterapia que sofri, como alguns enjôos, boca seca e
descascando, além da pele ressacada. Nada que eu não “tire de letra”, afinal
para quem passou pelo Crohn, esses são apenas pequenos incômodos.”
Recado para os companheiros
“Aos meus
companheiros de Crohn que possam estar lendo isto, me simpatizo com vocês, pois
apesar do que passei, lendo relatos de portadores de Crohn, não me sentia a
pessoa mais lesada por esta doença.
O transplante pode
ainda não estar disponível para todos, pois foi difícil para que eu também
conseguisse realizá-lo. Tive ajuda de uma associação de advogados empenhados na
causa do transplante da medula a ATMO (Amigos do Transplante da Medula Óssea),
pois o mesmo ainda não é reconhecido no Brasil como tratamento indicado para o
Crohn.
Mas o mais
importante que fica com esta experiência é a esperança. A esperança de ter uma
vida livre do Crohn, sem sofrer preconceito por causa da ignorância alheia, com
relação a esta doença tão destrutível. A quem estiver lendo este relato, aviso
para que não perca a esperança.
Deixo aqui embaixo
o meu agradecimento aos meus médicos e as pessoas que me ajudaram nessa jornada
que ainda não acabou, mas que tenho esperança que terá um final feliz.
A todos meu muito obrigado.
Aos enfermeiros,
fisioterapeutas e amigos do Hospital Beneficência Portuguesa de São José do Rio
Preto.
Vocês são ótimos!!!!”
Obrigado Giselle por compartilhar conosco a sua história.
Se você também quer mostrar a outras pessoas como foi o seu desenrolar da doença, mande-nos uma mensagem (email: crohnecolite@gmail.com) que entraremos em contato.
Ou caso prefira, faça o download do questionário na barra lateral direita do site, complete-o e envie-o para crohnecolite@gmail.com
Olá achei o relato excelente, fico feliz por sua melhora e remissão. A única duvida é que no post diz que sua cirurgia foi feita em novembro de 2013 e que por causa do transplante vc esta há 8 meses sem precisar de medicação. Estamos em maio de 2014 se passaram apenas 6 meses, pergunto pois tenho um sobrinho de apenas 2 anos com Crohn e estamos buscando o máximo de informação possível, pois vc sabe como é sofrível esta doença para um adulto imagine para um bebe que esta nesta situação há mais de 1 ano. Obrigada
ReplyDeleteOlá Fran,
DeleteJá foi corrigido. Na verdade o transplante foi em outubro, não em novembro.
Esperamos que seu sobrinho melhore logo e coloque a doença para escanteio.
Abraços
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