Por Inês Zanchetta - extraído da revista ABCD em FOCO com a devida autorização
As doenças inflamatórias intestinais não escolhem sexo
nem idade. Tanto homens quanto mulheres passam pelos mesmos incômodos. Existem,
no entanto, algumas particularidades. Confira
A exemplo do que ocorre com qualquer tipo
de moléstia, cada paciente de Crohn ou de Colite Ulcerativa desenvolve, e
sobretudo sente, a doença de uma maneira única. Se não existem no mundo duas
pessoas iguais, é natural que as sensações dos sintomas e a maneira de
interpretá-los varie de doente para doente. Mas de forma geral, ao menos no que
diz respeito às DII (Doenças Inflamatórias Intestinais), homens e mulheres
apresentam quase que as mesmas características e sentem os mesmos desconfortos. Até aquela velha história que a gente escuta desde a infância, de que os homens
resistem mais a tratamentos de saúde e se recusam a procurar ajuda médica, não
vale para quem tem DII. Em alguns poucos aspectos, é óbvio que existem
diferenças importantes, a começar pela própria anatomia distinta dos dois
sexos. Questões como a menstruação e a gravidez dizem respeito apenas à
biologia feminina. De resto, porém, as dificuldades clínicas entre os homens e
as mulheres são as mesmas. O que muda - e faz toda a diferença - é a maneira
como cada um dos sexos enfrenta as dificuldades.
Um exemplo prático disso é o uso de
medicamentos. A grande maioria dos portadores de Crohn ou Colite Ulcerativa têm
que tomar cortisona constantemente ou, no mínimo, quando entram em crise. E
todo mundo conhece os terríveis efeitos colaterais dessa droga: inchaço,
aumento de peso, angústia, depressão, azia. Quem é que gosta de sentir essas
coisas? Ninguém - mas os homens encaram melhor a cortisona. "As mulheres
se queixam muito por que engordam. Já os homens até gostam de ganhar alguns
quilos", diz o doutor Flavio Steinwurz, gastroenterologista e presidente
da ABCD - Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn. Suas
conclusões baseiam-se na longa experiência com pacientes dessas doenças.
Algumas mulheres chegam a ficar revoltadas ao ter que tomar cortisona, e não dá
para dizer que seja difícil entender o porquê: que mulher gosta de ganhar uns
quilos e ainda por cima ficar com o rosto vermelho e redondo?
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Peso, fístulas e acne incomodam De fato,
para as mulheres, engordar é um transtorno. E quando encontra alguém que não vê
faz tempo, o transtorno pode se transformar em ódio. A doente de Crohn Luciana
Podschun, 29 anos, solteira, conta que passou um bom tempo enfurnada dentro de
casa porque engordou muito e não agüentava mais ouvir as pessoas lhe
perguntando se estava grávida. "Além de ter que explicar que não, a gente
ainda tem que encarar o constrangimento do interlocutor", diz ela.
A psicóloga Sheila Borelli, 40 anos,
casada e mãe de três filhos, é outra que conhece bem os efeitos colaterais da
cortisona e a evita o quanto pode. "Como às vezes não posso escapar dela,
faço ginástica todos os dias", afirma. "Foi a maneira que encontrei
de manter o peso e, ao mesmo tempo, controlar melhor a colite." Aquilo que
é um terror para a maioria das mulheres, de forma geral é bem aceito pelos
homens. Para quem emagreceu excessivamente, engordar por conta da medicação é
motivo de comemoração.
É o caso de Douglas Pierazzi, 21 anos.
Portador de Crohn, dos 67 quilos que pesava passou para 52. "Agora cheguei
aos 62 quilos e estou achando ótimo."
Portadores de DII costumam ter acne. Não
importa se homens ou mulheres. O fato que é as mulheres detestam, enquanto os
homens têm mais tolerância com as "espinhas". Outro incômodo que não
poupa homens nem mulheres são as fístulas. A diferença é que nas mulheres, além
da área perianal, surgem também na região da vagina. No entanto, o mal-estar e
as dores associadas a elas não privilegiam este ou aquele. As semelhanças não
se encerram aqui. Alguns depoimentos são parecidos quando o assunto é o início
de um relacionamento amoroso. O constrangimento parece comum a homens e
mulheres. Todos ficam preocupados em encontrar uma forma de contar ao namorado
ou namorada sobre a doença e sentem-se envergonhados, atrapalhados.
Menstruação, menopausa, fertilidade Entre
as poucas diferenças encontradas ao se analisar mulheres e homens, uma delas
refere-se aos efeitos colaterais provocados pelos medicamentos utilizados no
tratamento das DII. Nas mulheres, eles interferem na menstruação. Do lado
masculino, podem causar problemas de fertilidade. "Mas nada que não possa
ser controlado", avisa o doutor Flavio Steinwurz. Algumas mulheres têm
menstruações irregulares especialmente com a doença em atividade. Uma vez sob
controle, o ciclo se normaliza.
Os pesquisadores ainda não conseguiram
estabelecer uma relação entre o sistema imunológico - a origem da inflamação
que causa os sintomas dessas moléstias - e o sistema endócrino - os órgãos que
produzem hormônios, os responsáveis químicos pela menstruação. Estudos recentes
realizados na Universidade de Chicago confirmaram o que as mulheres que têm DII
vêm relatando aos seus médicos faz tempo: durante certos períodos do ciclo
menstrual elas se sentem pior do que as que não têm a doença. Por exemplo, a
tensão pré-menstrual (TPM) normalmente causa problemas gastrointestinais. Nas
mulheres portadoras de DII, a TPM costuma provocar diarréia ou constipação e
dor abdominal. Porém, para isso existem remédios. Basta conversar francamente
com o médico.
No período da menopausa não há qualquer
interferência comprovada. O que acontece é que a perda de estrogênio pode levar
à osteoporose. No entanto, como a longevidade feminina vem aumentando, o risco
de osteoporose - perda óssea causada por deficiência de cálcio no organismo e
que atinge principalmente o sexo feminino depois da menopausa - acaba sendo o
mesmo para as mulheres em geral. A prevenção se faz tomando cálcio ou ingerindo
alimentos que o contenham (ver artigo sobre Intolerância à Lactose nesta
edição).
As DII não provocam qualquer alteração nas
taxas de fertilidade das mulheres. Em compensação, os homens podem sofrer
alterações, mas somente se estiverem tomando derivados de sulfa. É que esses
medicamentos tornam os espermas mais lerdos, e eles não conseguem fecundar os
óvulos.
Abrir o jogo facilita, para não
transformar crises de Crohn e Colite em fardos muito pesados, a saída é dividir
o problema. Na escola, com o coordenador do curso, no trabalho, com o chefe
imediato. Você vai ver que a sua vida fica mais fácil. A paulista Luciana
Podschun, por exemplo, ao mesmo tempo em que escondia a doença dos namorados,
falava abertamente sobre ela no trabalho. A vantagem é que, já que seus colegas
e chefes sabem do seu problema, tudo fica mais fácil quando ela precisa faltar.
Para Rubens Badaui, 29 anos, solteiro, que trabalha com vendas e lida
diretamente com o público, a situação é mais complicada. Se está em crise de
Crohn prefere ficar em casa. "Não consigo nem falar de tanta dor",
diz. Ir para a faculdade em meio à crise é o que mais incomoda Priscila Kumeda.
"Moro no bairro de Santana e estudo Pedagogia na Universidade Mackenzie,
na Consolação. Não posso pegar o ônibus levando uma bolsa de água quente junto
para amenizar minhas dores", relata. É também na escola que Jennifer Magy,
15 anos, se sente mais desconfortável. "O que me incomoda mais é sentir os
calafrios e as dores provocadas pela Colite", diz a jovem que gosta de
navegar na Internet e de ir ao cinema. "Mas sempre dou um jeito." Já
Antonio Timoszczuk, 19 anos, estuda Engenharia na Fei, em São Bernardo do Campo
(SP), e conta que na primeira crise de Colite foi internado várias vezes e
perdeu seis meses de aula. Por tudo isso, a idéia de compartilhar com os outros
é útil e superimportante. Contudo, essa decisão é sempre pessoal e
intransferível.
Quanto mais informação, melhor Um passo
importante para lidar melhor com qualquer doença é conhecer o máximo possível
sobre ela. Procurar saber o que está ocorrendo no seu organismo, de que forma,
o que pode acontecer, quais os tratamentos disponíveis e coisas do gênero, é
meio caminho andado para conviver bem com o Crohn ou a Colite Ulcerativa. As
informações, hoje, estão mais acessíveis, seja conversando diretamente com
especialistas, pesquisando na Internet ou procurando publicações específicas.
Quer um exemplo? Depois que Priscila Kumeda descobriu que tinha Crohn, sua
família passou a prestar atenção na doença. "Um dia, uma prima navegando
na Internet viu o site da ABCD (Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e
Doença de Crohn) e me avisou. Aí fui procurar outros tratamentos", conta.
Para o seu conforto Algumas regras básicas
e um kit de emergência podem dar a você mais segurança e bem estar. Veja
quais são:
• Em primeiro lugar, não esqueça de
carregar com você um remédio para dor, além dos habituais. j Em casa, no
escritório ou na escola, levante-se de vez em quando e dê uma volta.
• Fora de casa, nada de comer feijoada, por exemplo. Dê preferência a alimentos
leves.
• Tenha sempre à mão uma caixa de lenços umedecidos - eles têm mil e uma
utilidades.
• Se estiver em crise, procure ficar perto de um banheiro onde você se sinta à
vontade.
• Essa é só para as mulheres: leve sempre absorventes higiênicos na bolsa, como
se estivesse menstruada. É que o intestino produz muco, uma substância branca
que pode se misturar às fezes, e os absorventes vão fazer você se sentir mais
segura e confortável.
"Além de ter que explicar que não
estava grávida, ainda tinha que encarar o constrangimento do interlocutor"
Luciana Podschun
"Um dia percebi que o problema da
doença era meu e que as pessoas não davam ao fato a importância que eu
dava" Rodrigo Badra Tamer
"Como às vezes não posso escapar da
cortizona, faço ginástica todos os dias. Foi a maneira que encontrei de manter
o peso e, ao mesmo tempo, controlar melhor a colite"
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