Para boa parte
das pessoas que têm doença de Crohn ou colite ulcerativa, o simples fato de
falar sobre sexo pode ser complicadíssimo. Fazer, então...
A melhor parte
de um filme romântico é sempre aquela em que os protagonistas principais dão um
longo e gostoso beijo na boca. Ah, que delícia ver que o amor é lindo e sempre
vence no final (pelo menos nos filmes). Foi-se o tempo em que as pessoas saíam
do cinema e só podiam imaginar o que iria acontecer entre quatro paredes com o
casal da história. Hoje todo mundo sabe bem o que acontece depois do beijo
apaixonado. As coisas agora estão declaradas publicamente. Cenas de sexo são
vistas a qualquer hora do dia, na rua mesmo e, principalmente, na televisão,
Embora não devesse ser tão explícito - o que até chega a banalizá-lo - o sexo
faz parte da vida de qualquer pessoa. Falar sobre sexo é absolutamente normal.
E todo mundo que tem cabeça boa sabe que fazer sexo é muito bom. Sobretudo
quando existe amor verdadeiro na relação.
A vontade de se relacionar sexualmente e com freqüência com alguém é própria da natureza humana. Muitas vezes o ritmo da vida sexual é prejudicado por fatores externos - problemas financeiros, insegurança no trabalho, preocupação com os filhos, cansaço, enfim, coisas que acabam com a vontade de qualquer cristão. A vida sexual das pessoas que têm um problema sério de saúde é ainda mais afetada. Quando o problema de saúde é Crohn ou colite ulcerativa, doenças que atingem justamente o intestino, o sexo pode ser uma questão complicadíssima. Às vezes até sem solução, se o casal não souber lidar com as dificuldades - e as dificuldades começam com a diminuição da libido causada pela própria doença. São dores abdominais, diarréias, sangramentos, fístulas perianais, fraqueza... De fato, ter vontade de "namorar" sentindo estes sintomas é difícil. Mas é preciso lembrar que eles não são sentidos o tempo todo. Quando o doente está fora de crise, os sintomas ficam bem mais suaves. Conforme o caso, desaparecem quase que totalmente.
As doenças inflamatórias intestinais não impedem a prática do sexo", afirma a Dra. Magaly Gemio Teixeira, proctologista que atende no Hospital das Clínicas e no Beneficência Portuguesa, ambos em São Paulo. "Mas é preciso que o casal saiba administrar bem a situação, principalmente quando a doença está muita ativa." Se o portador de DII, em vez de se esforçar para encarar o problema de frente, desistir da vida sexual, o relacionamento - seja namoro, casamento ou "juntamento" - certamente vai para a cucuia. O companheiro ou parceiro tem que entender, e respeitar, a falta de vontade eventual do outro. (Logicamente essa regra vale também para quem não tem doença nenhuma.) Como já dizia a minha avó, hoje nonagenária, quando um não quer, dois não brigam. É verdade, não brigam. Mas também não fazem amor.
Ficar doente ou passar por algum tipo de problema acontece com qualquer pessoa. Mas uma coisa é a doença ou problema ter começo, meio e fim. As doenças crônicas, como o Crohn e a colite ulcerativa, podem ter uma evolução prolongada - às vezes eterna. Há dias em que tudo acontece às mil maravilhas na cama, tanto para o parceiro quanto para o doente. Há noites, porém, que o que está pegando fogo é o humor dos dois. Um porque está sentindo na pele sintomas indesejáveis que desanimam e acabam com sua paciência. O outro porque, além de estar sempre assistindo a todo esse sofrimento e não poder fazer nada, ainda tem que engolir a vontade e ou necessidade de fazer sexo. Os aspectos físicos não são o único, e talvez nem o mais simples, atrapalhador da vida sexual de que tem DII. Os psicológicos também estão presentes - e podem pesar toneladas.
O receio de acontecer um acidente intestinal bem na hora do sexo e a
insegurança com a própria forma física são alguns deles. "A pessoa pensa
que sua aparência está comprometida pela doença e que, assim, não está atraente
para o parceiro", diz o psiquiatra Avelino Luiz Rodrigues. De fato, muitas
vezes a aparência muda mesmo (cortisona não deixa ninguém mais magro e bonito).
"Mas quanto mais injuriada a pessoa estiver com a própria doença e com as
conseqüências que ela traz para a sua vida, mais dificuldades vai ter de se
relacionar com o parceiro, com a família, os amigos, os colegas de trabalho,
enfim, com mundo todo", complementa o Dr. Rodrigues.
É compreensível que a doença gere um estado de espírito de altos e baixos e que isso afete a vida sexual. Para começar, os medicamentos que são usados para seu tratamento - corticóides, antiinflamatórios, antidepressivos -, podem causar disfunções sexuais, tanto nos homens quanto nas mulheres. Existe a possibilidade de alguns remédios levarem à infertilidade e impotência. (Não há certeza sobre isso, depende muito do caso e do medicamento. Mesmo que ocorra, a grande maioria dos médicos acredita que essa disfunção é passageira.) O problema maior, no entanto, é que muitos doentes de Crohn e de colite não se sentem à vontade para dividir com alguém o que está acontecendo com eles. Às vezes, nem com seu próprio parceiro. Resultado: acabam digerindo tudo sozinhos, o que nunca melhora a situação. A exceção pode ser o seu médico.
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Os dois profissionais foram direto ao ponto. Em se tratando de sexo, o que se
faz entre quatro paredes só interessa ao par. Ninguém pode dizer o que é certo
ou o que é errado. O problema é que, no caso das doenças inflamatórias
intestinais, o doente pode ter reações físicas que sem dúvida acabam com a
atmosfera do momento. Essas reações, absolutamente involuntárias, estão ligadas
à perda do controle dos esfíncteres (músculos de estruturas ocas, como bexigas
e intestino) e podem provocar eliminação de gases ou uma diarréia inesperada.
"Se os parceiros conversarem francamente sobre a situação o clima pode ser
menos tenso entre eles, já que é um grande esforço para uma pessoa manter
escondido, o tempo todo, tudo o que está acontecendo com ela", diz
Valéria.
De fato, conversar abertamente é a melhor maneira de todos relaxarem um pouco. Segundo a psicóloga, esse diálogo não precisa acontecer exatamente no momento do sexo - até é melhor que não. Mas se tudo já tiver sido falado entre os dois parceiros, se todas as eventuais reações já tiverem sido antecipadas numa conversa, o clima vai ser infinitamente mais leve. Também para as pessoas que sofreram colectomia (remoção total ou parcial do intestino grosso), o sexo continua sendo importante. Por isso, elas devem criar estratégias para driblar as eventuais dificuldades. "Se o problema é com a bolsa plástica que fica aparente, um pouco de criatividade ajuda a tornar a hora do sexo mais descontraída", diz Valéria. "Esconder a bolsa sob uma linda e perfumada toalha, camisola ou robe de chambre pode tirá-la do foco de visão do casal." A idéia mostra como, com cumplicidade e um pouco de boa vontade tudo se resolve.
Olá, tenho uma dúvida muito grande sobre o sexo e a Retocolite Ulcerativa, que é o que foi me agnosticado a pouco tempo. Sou gay e tenho relações sexuais e faço sexo anal, gostaria de saber se tem alguma precaução, se posso fazer a lavagem do reto normal, se pode prejudicar!? Aguardo respostar, obrigado!
ReplyDeleteOlá, desculpe-nos a demora em responder, estávamos com alguns problemas. Quanto à sua pergunta, vai depender de onde localiza sua doença. Evite fazer sexo anal caso esteja na fase ativa da doença e quando estiver em remissão faça uso de lubrificante à base de água, use bastante para que a fricção seja a menor possível e assim evite machucados na mucosa. Quanto a lavagem anal siga o mesmo que foi dito. Outro problema tanto com a lavagem quanto com o sexo anal pode ser também a entrada de ar durante o sexo o que no caso de alguém com inflamação pode ser ainda mais incômodo. Então, use bastante lubrificante, proteja-se, e tente algo mais devagar do que algo mais bruto. Abraços
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