Tabagismo e suas implicações nas DII
Os fatores ambientais
exercem grande influência nas doenças inflamatórias intestinais e o tabagismo (fumar cigarros) tem sido um dos mais estudados pelos pesquisadores de doenças inflamatórias
intestinais. O tabagismo é, até agora, o único fator ambiental que tem
evidências fortes o suficiente para ser considerado fator de risco verdadeiro a
ser evitado ou que requer modificação no estilo de vida para fins terapêuticos.
O elo entre doença
inflamatória intestinal e tabagismo já foi bem estabelecido, embora ainda não haja
uma conexão fisiopatológica entre tabaco e inflamação intestinal.
Alguns fatores foram
sugeridos como possíveis razões para o efeito do tabagismo na doença
inflamatória intestinal, apesar de nenhum ter sido confirmado. São eles:
- Modulação
das respostas imunológicas
- Mudanças
nos níveis de citocinas
- Alteração
da composição do muco
- Efeitos
vasculares e pró-trombóticos
- Mudanças
na permeabilidade intestinal
O mais “polêmico” é que o
hábito de fumar cigarros apresenta efeito oposto sobre cada uma das formas das
doenças inflamatórias intestinais, o que é intrigante e ainda não foi
explicado: o cigarro piora o curso clínico da doença de Crohn, com mais
sintomas, mais recaídas, mais hospitalizações e mais cirurgias, mas tem um
efeito protetor sobre o curso clínico da retocolite ulcerativa. Esse é um dos
fatores que aponta claramente para diferenças fundamentais na patogênese da
doença de Crohn e da retocolite ulcerativa.
Essa ideia surgiu quando
Harries et al perceberam em um estudo feito em 1982 a existência de uma menor incidência
de retocolite ulcerativa em pacientes fumantes. Em 1987, Motley et al demonstrou
que 52% dos pacientes com desenvolveram retocolite nos primeiros 3 anos após
parar de fumar. Já nos pacientes com doença de Crohn foi o inverso: a maioria
dos estudos mostra uma piora clínica naqueles que são fumantes e alguns poucos
estudos não observaram diferença.
Pacientes com retocolite
ulcerativa não fumantes apresentaram produção de muco colônico relativamente menor
que pacientes fumantes. Alterações na permeabilidade intestinal foram
detectadas através de um exame chamado ETDA-Cr urinário em pacientes com a retocolite
e este marcador mostrou-se reduzido em fumantes.
Mas isso não quer dizer que
pacientes com retocolite ulcerativa devem fumar. Jamais! Não é que o cigarro
protege contra a doença. A hipótese é que alguma substância presente faz essa
proteção e o cigarro vai ter, além dessa substância, centenas de outras que
fazem muito mal à saúde. Os malefícios causados pelo cigarro jamais superarão
esse efeito protetor.
Uma das razões para a maior ocorrência
de doença de Crohn em fumantes é que há uma tendência de trombose nos tabagistas.
Esse processo ocorre porque o tabagismo é responsável por lesão na célula
endotelial, redução na síntese de prostaciclina (vasodilatador e anti-agregante
plaquetário), elevação na concentração plasmática de fibrinogênio, o que
aumenta a viscosidade do sangue, reduz o plasminogênio e o fator ativador
tissular de plasminogênio.
Já chegaram a pensar que a
nicotina que seria esse agente terapêutico e realmente apresentou bons
resultados quando testaram apenas a nicotina (na forma transdérmica) em alguns
pacientes. O problema é que esse estudo (Srivastava, 1991) foi com pouquíssimos
pacientes (só 16) e quando foi testada como terapia isolada de manutenção não foi
superior ao placebo.
Portanto a nicotina e outras
substâncias presentes no cigarro são apenas uma das diversas pesquisas que
devem ser feitas na área das doenças inflamatórias intestinais.
Por fim, mantenha-se longe
do cigarro!
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