Implicações terapêuticas
Há alguns dias finalizamos
nossa sessão sobre as possíveis causas para as doenças inflamatórias
intestinais. Abordamos os fatores genéticos, os
fatores imunológicos, os
fatores ambientais e
os fatores microbianos. Devido
à complexidade de alguns deles decidimos explicar quais as implicações
terapêuticas que existem, ou seja, será que é possível melhorar as opções de
tratamento?
Antes de tudo temos que
pensar que a doença inflamatória intestinal e vista como uma condição
diagnosticada em algum momento da vida do paciente. Contudo, o que se vê nesse
instante é somente parte de um processo iniciado muito tempo antes de o
diagnóstico ter sido feito e que se manterá pelo resto da vida. Outra coisa que
devemos levar em consideração é que, durante essa evolução prolongada, a doença
inflamatória intestinal nem sempre é a mesma, isto é, dificilmente os
mecanismos que “despertam” a doença ou medeiam a inflamação intestinal em uma
criança pequena são exatamente os mesmos décadas depois. Os sintomas e as
respostas à terapia (ou falta de resposta) também mudam com o tempo. Sendo assim,
é mais lógico ver a doença inflamatória intestinal como uma condição dinâmica
que apresenta diferentes fases de evolução, de precoce a tardia, todas
dependentes de diferentes mecanismos e que requerem estratégias terapêuticas diferentes
para resultados ideais. Durante essa evolução, os fatores primários e
secundários provavelmente detêm papeis concomitantes e sequenciais no
desenvolvimento da inflamação intestinal e produzem o quadro clínico definido
como doença inflamatória intestinal.
A questão central é para
qual dos componentes da patogênese da doença devem se dirigir os resultados
clínicos ideais. Hoje os fatores ambientais e genéticos ainda não são possíveis
de ser modificados, mas os outros dois componentes, microbiota intestinal e o
sistema imunológico, são adequados para intervenção terapêutica.
Realmente os avanços no
tratamento da doença de Crohn e da retocolite ulcerativa se baseiam em uso de
antibióticos e probióticos para manipular a flora intestinal e medicações
anti-inflamatórias, agentes biológicos e outras drogas para manipular e
neutralizar citocinas, receptores ou moléculas de sinalização que medeiam a
ação das células inflamatórias. Essa abordagem baseada na fisiopatologia
permitiu a geração de diversos anticorpos monoclonais, citocinas recombinantes,
pequenas moléculas, organismos geneticamente modificados, dispositivos e
terapias celulares que oferecem uma gama sem precedentes de opções de
tratamento tanto para médicos como para pacientes.
Embora a alteração da flora
intestinal ou o controle da resposta imunológica seja certamente útil para os
portadores de doenças inflamatórias intestinais, não é possível atualmente
prever a ocorrência de uma resposta benéfica, o tipo de resposta observada, que
paciente alcançarão melhora com qual forma de tratamento ou que pacientes não responderão
às mesmas medicações ou a suas alternativas. Assim, fica clara a necessidade de
mais estudos para classificar com precisão subgrupos individuais de pacientes
com doença inflamatória intestinal não só definidos em nível fenotípico
clínico, mas também em nível genotípico, microbiano e imunológico. Isso gerará “assinaturas
biológicas” específicas únicas para cada paciente de modo que cada caso possa
ser abordado de forma racional, altamente personalizada e dirigida a defeitos
específicos em suas vias inflamatórias intestinais.
Mas a boa notícia é que esse
cenário não está longe de ser alcançado, pois a integração de conhecimentos e
informações já está ocorrendo com rápido progresso.
Segue abaixo uma tabela com visão
geral dos agentes biológicos e outros diversos para a terapia da doença
inflamatória intestinal
Agente
|
Mecanismo
|
Infliximabe
Adalimumabe
Certolizumabe
|
Neutralização da TNF-α
|
Ustequinumabe
|
Bloqueio da via IL-12 ∕
IL-23
|
Vedolizumabe
|
Bloqueio de integrinas α-4-β-7,
inibição da adesão de leucócitos
|
Rituximabe
|
Depleção de células B
|
Daclizumabe
Basiliximabe
|
Bloqueio do receptor de
IL-2
|
Interleucina 10
|
Imunossupressão
|
Interferon β-1a
|
Anti-inflamatório
|
Alicaforsen
|
Inibição da adesão de
leucócitos
|
AEB071
|
Inibição da proteína quinase
C e ativação de células T
|
Transplante de
células-tronco
|
Restabelecimento da
homeostase imunológica
|
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