Fatores genéticos – existem ou não?
Ainda há quem diga que as
doenças inflamatórias intestinais não estão relacionadas à genética, mas os
estudos dizem justamente o contrário. Isso não significa que se você tem, seu
filho vai ter. Existem vários outros fatores relacionados, como os fatores
ambientais, imunológicos, microbianos etc e, muitas vezes, mais de um fator
envolvido.
Mas a genética vai muito
além da descoberta. Avaliando as variações do gene pode ser possível até mesmo
ter noção da progressão da doença, o que será formidável para um tratamento mais
individualizado. Pode-se, também, analisar se um determinado medicamento vai ou
não fazer efeito. Enfim, o assunto é complexo mas, como dissemos, muito
promissor. E tomara que essas análises estejam ao nosso alcance num futuro
próximo.
Entre os diversos
componentes da patogênese da doença inflamatória intestinal, nenhum se
desenvolveu tão significativamente como a genética. Recentemente, evidências
objetivas em favor dessa teoria genética foram confirmadas. Por exemplo,
descobriu-se a associação de variações do gene NOD2 com a ocorrência de doença
de Crohn ileal e variações do gene receptor de interleucina (IL)-23 tanto como
a doença de Crohn como a retocolite ulcerativa. Inicialmente pensaram que a
doença de Crohn tem conotação genética mais forte do que a retocolite
ulcerativa, mas hoje já se sabe que ambas tem um grande número de locos
genéticos associados.
Há também alguns locos
genéticos que estão associados a doença inflamatória intestinal de instalação
precoce, pediátrica, o que demonstra potencial das análises genéticas para
diferenciar os diversos estágios da evolução da doença.
Deve-se notar que a maior
parte das associações genéticas relatadas não determina defeitos genéticos
isolados subjacentes a vias pró-inflamatórias específicas, mas locos primários
que contem múltiplos genes candidatos que ainda deverão ser isolados por
abordagens mais refinadas.
No momento, aproximadamente
70 associações foram relatadas para doença de Crohn e 50 para retocolite
ulcerativa, o que demonstra claramente que as duas formas de doença
inflamatória intestinal são geneticamente heterogêneas, cada qual apresentando associações
genéticas únicas e compartilhadas. No entanto há diferenças nessas variações genéticas
ao redor do mundo: no ocidente (caucasianos e judeus) são observadas diversas variações
que não são observadas no oriente (japoneses e chineses). De fato parece haver
diferenças passíveis de reprodução de fundo genético entre ocidentais e
orientais, mas também há semelhança. O gene TNFSFS15, que é de susceptibilidade
à doença inflamatória intestinal, é compartilhado entre populações racial e
etnicamente diversas, como asiáticos, europeus e norte-americanos.
A importância da genética
vai muito além da descoberta! Alguns “defeitos” na fisiopatologia podem ser
melhor compreendidos, o que abre um caminho promissor para o desenvolvimento de
intervenções específicas. Por exemplo:
- Pacientes
com doença de Crohn portadores de defeitos no gene NOD2 apresentam menor
capacidade de reconhecer e processar produtos bacterianos, o que pode
gerar uma resposta imunológica inapropriadamente longa ou ineficaz.
- Pacientes
com doença de Crohn com variações dos genes ATG16L1 e IRGM de autofagia
podem ter menor capacidade de processar produtos de degradação celular,
como bactérias, o que pode levar à eliminação insuficiente de estímulos
pró inflamatórios.
- Alguns
pacientes com doença de Crohn com variações do gene ATG16L1podem ter
afetada a capacidade de secretar peptídeos endógenos antibacterianos e
controlar a quantidade ou a qualidade das bactérias na flora intestinal.
- Polimorfismos
do gene TLR4 na doença de Crohn e na retocolite ulcerativa reforçam ainda
mais a noção de vias de imunidade inata portencialmente defeituosas com as
quais esses pacientes reconhecem e respondem às bactérias.
- Variações
no gene XBP1 sugerem uma capacidade menor de resposta das células a uma
série de sinais de estresse celular.
Além de identificar vias
pró-inflamatórias, o estudo das anomalias genéticas na doença inflamatória
intestinal tem o potencial de fornecer informações diretamente relevantes ao
diagnóstico clínico e tratamento. De fato, relatos recentes indicam que
análises genéticas combinadas podem ajudar a criar uma classificação molecular
da doença inflamatória intestinal, discriminá-la entre doença de Crohn e
retocolite ulcerativa, prognosticar o risco e a gravidade da doença em
pacientes portadores de doença de Crohn e prever a resposta ao tratamento com
medicação biológica, como o infliximab.
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