Fatores ambientais
Nesse post falamos
sobre os fatores genéticos como causa das doenças inflamatórias intestinais. Hoje
vamos falar dos fatores ambientais. Qual a relação deles com essas doenças? Será
que tem participação na etiopatogênese mesmo?
Já sabemos que os casos de
doença inflamatória intestinal tem crescido muito ao redor do mundo e esse
aumento começou principalmente após a Segunda Guerra Mundial. Nessa época essas
doenças eram mais conhecidas na América do Norte e norte da Europa mas, desde
então, começou a ser diagnosticada com frequência cada vez maior na Europa
Central e Ocidental, Japão e Austrália, depoisa na América do Sul e Europa
Oriental e, na última década, começou a surgir no eixo Ásia-Pacífico, com
aumento constante de sua incidência em diversos países asiáticos.
As características clínicas da
doença variam de acordo com as regiões do mundo. Na Ásia a retocolite
ulcerativa é mais comum que a doença de Crohn e seu curso clínico tende a ser
mais leve, com menos complicações e necessidade menor de cirurgia. Esse quadro
é parecido com de descobrimento das doenças inflamatórias na Europa e América
do Norte, pois também eram mais leves e com menos complicações.
Foram propostos diversos
fatores de risco como possíveis culpados: tabagismo, dieta, uso de contraceptivos
orais, apendicectomia, infecções e vacinas e até fatores perinatais e da
infância. Estudos recentes cada vez mais realçam a importância da dieta na
formação da microbiota intestinal e o microbioma intestinal está crucialmente
envolvido na patogênese da doença inflamatória intestinal. Exceto pelo
tabagismo, nenhum dos demais fatores tem o suporte de evidências fortes o
bastante para serem considerados risco verdadeiro a serem evitados ou requerem
a modificação de estilo de vida para fins terapêuticos. Mais para frente
teremos um artigo só sobre tabagismo, mas já podemos adiantar que o tabagismo
tem efeito oposto na doença de Crohn e na retocolite: em uma ela piora e, na
outra, pode até proteger.
Outra hipótese é a “hipótese
da higiene”, que surgiu principalmente da diversidade de fatores ligados à
epidemiologia. Essa hipótese foi proposta por Strachan em 1989 e sugere que a
falta de exposição a infecções comuns nas fases iniciais da vida afeta
negativamente o desenvolvimento do sistema imunológico, que se torna menos
educado e menos preparado para lidar com uma série de novos desafios mais tarde
na vida.
A “hipótese da higiene” está
apoiada indiretamente por evidências de uma saúde melhor em partes do mundo
onde a doença inflamatória intestinal está surgindo, com menos infecções e
doenças parasitárias, melhores condições sanitárias, alimentos e água de melhor
qualidade, vacinas e a consolidação de hábitos alimentares e outros nos moldes
das sociedades onde a doença inflamatória intestinal é mais prevalente (no
ocidente).
Isso faz dela um distúrbio
do estilo de vida moderno, juntamente a outras doenças crônico-alérgicas como
asma, psoríase, esclerose múltipla e artrite reumatoide.
A verdadeira importância da hipótese
da higiene como explicação da doença inflamatória intestinal ainda não é certa
e ela ainda pode ser criticada, pois a maioria dos estudos nessa área utilizaram
dados indiretos e retrospectivos. Por outro lado, as evidências circunstanciais
em favor da hipótese da higiene são consideráveis, embora complicadas por uma
lista quase infinita de fatores ambientais que tem sido associados ao aumento
frequente da DII pelo mundo.
0 comentários:
Post a Comment
Muito obrigado pelo seu comentário e/ou pergunta. Responderemos o mais rapidamente possível.