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O que é auto-hemoterapia?


É uma prática terapêutica que consiste na extração de sangue venoso de uma determinada pessoa, e sua reinjeção nessa mesma pessoa, por via intramuscular. Os defensores da auto-hemoterapia afirmam que essa técnica estimula o aumento do percentual de macrófagos, células de grandes dimensões do tecido conjuntivo que fagocitam elementos estranhos ao corpo e intervém na defesa do organismo contra infecções eliminando bactérias, vírus, células cancerosas e o sangue coagulado. Trata-se, portanto, de uma terapia de estímulo imunológico.

O aumento de produção de macrófagos pela medula óssea ocorre porque o sangue no músculo funciona como um corpo estranho a ser rejeitado pelo Sistema Retículo Endotelial (SRE). Enquanto há sangue no músculo, o Sistema Retículo Endotelial mantém-se ativado e a produção de macrófagos em alta. Essa ativação termina ao fim de cinco dias. A taxa normal de macrófagos é de 5% no sangue e, com a auto-hemoterapia, eleva-se para 22% durante cinco dias. Do quinto ao sétimo dia declina, voltando aos 5%. Daí a razão de recomendarem que a aplicação seja repetida de sete em sete dias.


Como surgiu essa técnica?


Embora a discussão em torno da auto-hemoterapia pareça muito recente, a técnica surgiu na França, há mais de um século, em 1911, introduzida pelo médico François Ravout como proposta para tratar a febre tifoide. Em 1938, numa tentativa de encontrar um tratamento eficaz para uma infecção ela voltou a ser empregada. Como nessa época os antibióticos ainda não estavam amplamente disponíveis no mercado, o médico francês Gaston de Lyon propôs injetar sangue da própria pessoa no membro afetado para evitar amputação.O tratamento gerou alguns resultados, motivo pelo qual se popularizou na Europa até a década de 50. Nas décadas seguintes, no entanto, foi perdendo a sua popularidade com a introdução de novas drogas antimicrobianas que ofereciam menores riscos aos pacientes.

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Há riscos ao fazer auto-hemoterapia?


Oficialmente, no entanto, as autoridades sanitárias e a comunidade médica internacional alertam para os riscos dessa técnica. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina proibiu os médicos de indicarem e realizaram tratamentos de auto-hemoterapia sob risco de serem processados. O Conselho Federal de Enfermagem também não recomenda enfermeiros a aplicá-la.

A Agência nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera a sua prática ilegal e afirma que “não existem evidências científicas, trabalhos indexados, que comprovem a eficácia e segurança deste procedimento” (ver nota técnica 1/2007). A Anvisa também considera o uso da auto-hemoterapia uma infração sanitária.

Para esses médicos, a auto-hemoterapia pode ocasionar abscessos na pele, dores, edemas, hematomas, infecções, além de evoluir para quadros clínicos mais severos, como a coagulação intravascular disseminada, sangramento generalizado, entre outros efeitos colaterais que ainda estão sob investigação científica.

Em contraposição, os defensores da auto-hemoterapia afirmam que o não reconhecimento dessa prática tem relação com os poderosos interesses da indústria farmacêutica, pois o tratamento  dispensaria o uso de uma série de medicamentos. O debate, ainda hoje, segue polêmico e sem resolução.



Em que casos é possível recorrer a esse tratamento?


Enquanto a comunidade científica se debruça sobre os potenciais e riscos da auto-hemoterapia, é preciso saber que esse método ainda é um tratamento de nível experimental e só deve ser empregado dentro de protocolos aprovados pelas autoridades médicas. Em alguns países, no entanto, os usuários dessa técnica invocam a Declaração de Helsinque que, nos seus Princípios Adicionais para Pesquisa Clínica combinada a Cuidados Médicos, da Associação Médica Mundial, afirma que “No tratamento de um paciente, quando métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos comprovados não existem ou foram ineficazes, o médico, com o consentimento informado do paciente, deve ser livre para utilizar medidas profiláticas, diagnósticas e terapêuticas não comprovados ou inovadores, se no seu julgamento, esta ofereça esperança de salvar vida, restabelecimento da saúde e alívio do sofrimento”.


Auto-hemoterapia e doenças inflamatórias intestinais



Uma das áreas mais importantes onde se propõe o uso da auto-hemoterapia é no campo da modulação da imunidade, seja para o tratamento de infecções ou em doenças autoimunes como a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Especialistas acreditam que a aplicação do sangue, quando difundida em vários lugares do corpo, desvia a agressão imunológica para o sangue, diminuindo a pressão sobre os tecidos que estavam sendo agredidos. Como as doenças autoimunes são uma inversão da função imunológica (que em vez de proteger passa a agredir o organismo), o desvio tende a diminuir a pressão promovida pela doença, garantindo uma vida mais tranquila aos pacientes. Embora seja possível encontrar na internet diversos relatos de pessoas que obtiveram bons resultados a partir do tratamento com auto-hemoterapia, é importante lembrar que ainda se trata de uma técnica experimental e não autorizada no país. E lembre-se: sempre consulte o seu médico sobre todo e qualquer assunto relacionado ao seu tratamento.


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