Transplante fecal e colite
O
transplante fecal, também conhecido como terapia bacteriana, é um tipo de
tratamento médico que visa repovoar intestinos com bactérias pertencentes à
flora bacteriana benéfica, que pode ser exterminada em função de alguns
transtornos, ou devido ao uso de certos medicamentos (como por exemplo,
antibióticos).
Tradicionalmente,
tem sido utilizado para tratar doenças causadas pela bactéria Clostridium
difficile. Uma das principais doenças causadas por essa bactéria é a colite pseudomembranosa.
Em
linhas gerais, o transplante fecal consiste num esforço para reestabelecer o
equilíbrio de um intestino que passou por um processo conturbado, reintroduzindo
a grande diversidade de microrganismos colaborativos que possam ter sido
eliminados por algum motivo.
Como funciona o transplante?
O
material fecal doado em geral é de um parente, preferencialmente que viva no
mesmo ambiente que o receptor, pois se ambos comem da mesma comida, muito
provavelmente tem grandes chances de possuírem uma flora bacteriana similar.
Coleta-se aproximadamente 30g da matéria fecal do doador, e mistura-se em um
liquidificador com um pouco de água salgada, sendo, em seguida, filtrada (para
remover partículas em suspensão), restando apenas um líquido. Por fim, este
preparado é introduzido no estômago do paciente por meio de uma sonda
nasogástrica.
Como surgiu a técnica do transplante fecal?
Surgiu
nos anos 1960, quando pesquisadores começaram a usar um método de lavagem
intestinal no paciente usando fezes de outras pessoas para tentar
"repovoar" a flora, restaurando assim o seu equilíbrio. Entretanto, a
técnica foi considerada antiética pela comunidade médica daquela época sendo
suspensa nas décadas seguintes.
Tempos
depois, os cientistas também tentaram aplicar as fezes saudáveis nos pacientes
por meio da colonoscopia, mas os resultados não foram satisfatórios porque não
se conseguia fazer o "repovoamento" de toda a flora intestinal -
somente do fim.
Somente
no início deste ano, com a publicação de uma pesquisa feita por cientistas
holandeses e publicada no New England Journal of Medicine, foi comprovado que o
transplante de fezes é uma alternativa realmente eficaz para pacientes com colite
pseudomembranosa se comparado com o tratamento medicamentoso “tradicional”.
No
Brasil, o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, realizou em março deste ano
os dois primeiros procedimentos do tipo no país.
Em que casos o transplante fecal é recomendado?
Embora
os médicos acreditem na eficácia do transplante fecal, essa técnica deve ser
utilizada somente como último recurso. Em geral, a técnica é aplicada quando
são constatadas infecções graves pela bactéria C. difficile e no tratamento da colite
pseudomembranosa.
Como
a C. difficile é altamente resistente aos antibióticos, não é recomendado
tratá-la com base nesses medicamentos, pois eles tendem a exterminar a flora
bacteriana benéfica do intestino, propiciando um ambiente adequado para a maior
proliferação da C. difficile (sendo o uso contínuo de antibióticos a principal
causa de colite pseudomembranosa).
A
melhor alternativa nesse caso é a reintrodução de bactérias benéficas ao
intestino por meio de um transplante fecal. Dessa forma é possível equilibrar a
ação da C. difficile e tratar corretamente doenças como a colite
pseudomembranosa.
O que é a colite pseudomembranosa?
A
colite pseudomembranosa é uma inflamação do cólon que ocorre quando a bactéria C.
difficile lesiona o órgão com a liberação de suas toxinas, provocando diarreia
e a aparição de placas esbranquiçadas conhecidas como pseudomembranas no
interior do cólon. Seus principais sintomas são a diarreia, geralmente de odor
fétido, febre e dor abdominal. Em alguns casos, essa modalidade de colite pode
ser fatal. É mais recorrente em pessoas que acabaram de passar por tratamentos
a base de antibióticos e em pacientes debilitados recém-ingressos em hospitais
ou casas de idosos.
O
tratamento dos casos mais brandos é feito apenas com suspensão do
antimicrobiano responsável por desencadear os sintomas. Nos casos mais graves, no
entanto, as medidas podem ir desde a suspensão do antimicrobiano até o
tratamento com remédios como o metronidazol via oral ou vancomicina. Se os
tratamentos medicamentosos não apresentarem resultado satisfatório, o médico
pode recorrer ao transplante fecal.
Os resultados são satisfatórios?
Estudos
apontam um índice de sucesso dos transplantes fecais é de aproximadamente 90%.
No entanto, o enorme preconceito por parte dos pacientes ainda representa um
obstáculo para que esta técnica tenha maior aplicabilidade. Além de retomar o
equilíbrio da flora intestinal, também foi observada melhora na sensibilidade à
insulina em pacientes diabéticos e obesos, após transplante fecal realizado com
material obtido por meio da doação de pacientes magros e saudáveis.
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