Doença de Crohn e Colite Ulcerativa
Hoje na
Sessão Conte a Sua História vamos ouvir Denise Marinho, 42 anos, carioca e
morando em Recife, PE, Brasil.
Os primeiros
sintomas:
“Aos
14 anos comecei a sentir fortes dores abdominais, muita diarreia, perda de peso
e anemia. Cheguei a pesar 38 kg, às vezes não conseguia nem ficar em pé de tão
fraca.”
Diagnóstico:
“Lembro-me
bem de como foi difícil ter um diagnóstico. Minha mãe percorreu vários médicos
comigo e eu não melhorava, até que depois de um ano de várias tentativas uma
médica do Hospital São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro, encaminhou-me para
o HCRJ (Hospital do Fundão) e lá fiquei internada por 28 dias fazendo uma série
de exames e foi aí que recebi o diagnóstico de Doença de Crohn. Isso foi em
1985. Se hoje é difícil o diagnóstico imaginem há 27 anos.”
Qual foi a
reação do Marco ao receber o diagnóstico?
“Nunca Nunca tinha ouvido falar e até para os médicos era
algo novo. Poucos casos existiam ainda no RJ e outros em estudos. Sinto-me
privilegiada por poder ter sido acompanhada inicialmente em um Hospital de referência
no RJ, onde estava iniciando uma equipe de pesquisadores e tratamentos em DII e
que me ajudou muito logo de início. Não acredito em sorte, mas sim no cuidado
de Deus.”
“Fomos muito bem instruídos pelos médicos sobre a doença. Passei a fazer
o tratamento ambulatorial mensalmente e tinha atendimento com psicólogos e
nutricionistas que sempre esclareciam nossas dúvidas. Ficamos sabendo que se
tratava de um problema crônico que eu deveria aprender a conviver e que com o
tempo poderiam ter outras complicações, mas que se acompanhado, poderia ter uma
vida ‘normal’.”
O tratamento
inicial:
" Inicialmente, comecei com corticoides, sulfasalazina e uma alimentação
parenteral, que logo cessaram as diarreias e me fizeram voltar a ter vida
novamente."
Complicações no
decorrer da doença:
“No
início, o diagnóstico era de uma inflamação leve localizada no íleo terminal.
Com o tratamento fiquei estabilizada. Voltei a fazer quase tudo que uma
adolescente fazia na minha idade (15 anos na época). Estudei, namorei, casei
com um militar e mudei de Estado. Até então, com o acompanhamento no HCRJ
estava tudo bem. Aos 20 anos, quando me casei, fui morar em Natal-RN e lá,
depois do primeiro ano, tive minha segunda grande crise. Aí foi terrível, porque
nenhum médico particular que eu ia conhecia a doença pessoalmente. Só nas
literaturas médicas. Era rara no Nordeste.
Então, com todos os meus laudos, fui parar no Hospital
das Clínicas em Natal e lá reiniciei o tratamento que já havia feito no RJ, com
a orientação do médico professor em Gastro. Isso foi em 1992. Esse médico,
professor responsável pela Clínica de Gastroenterologia do Hospital das
Clínicas em Natal, me convidou para participar de uma aula, onde servi de “cobaia”
para 18 residentes, e que até hoje me lembro de como foi constrangedor; mas sei
que com certeza os ajudei de alguma forma. Fiquei então estabilizada novamente
e em acompanhamento clínico. Com o passar do tempo, houve outras complicações. Precisei
fazer cirurgia de vesícula em 1998 após ter tido meu primeiro filho, pois ela
estava inflamada devido ao Crohn. Começaram a aparecer fissuras anais e por
isso precisei fazer mais outra cirurgia. A doença então já era considerada de
leve a moderada. Fazia colonoscopias anuais para manter o controle. Minha
alimentação sempre foi muito restrita e passei a usar a Mesalazina, que no
início vinha da Argentina porque ainda não existia no Brasil.
Em 2001, fui morar em Belo Horizonte e lá tive uma
melhora significativa. Depois do meu segundo filho, cheguei a passar quatro
anos sem sintomas nenhum do Crohn, mas sempre em acompanhamento clínico. A
única coisa que sentia eram dores nas articulações devido ao uso prolongado do
corticoide. Fui diagnosticada com poliartralgia, mas também mantive o controle.
Até que em 2006 comecei a sentir tudo novamente, outra grande crise com fortes
dores, diarreia e perda de peso. Quando foi detectado que estava com uma parte
do intestino estenosado. Fui então encaminhada para um hospital militar de
referência em Gastroenterologia e DII no RJ e, mesmo morando em BH, iniciei um
tratamento no RJ para desobstruir as alças intestinais. Passei um ano neste
tratamento (o ano de 2007). Fiz seis colonoscopias em 2007 para desobstruir a
estenose, sendo uma a cada dois meses. Sofri muito, mas era uma tentativa para
não precisar de cirurgia. Bem, não deu certo e em 2008 precisei fazer a cirurgia
para retirada de uma parte do intestino que estava estenosado que não desobstruiu,
virando uma fibrose.
Então, meu
caso passou a ser considerado severo. Passei um mês internada e pensei que ia
morrer, mas sobrevivi. Depois desta grande tempestade de 2008, assim que me
recuperei seis meses depois, me mudei para Lagoa Santa-MG, um santo lugar, e
com o tratamento voltei ao normal. Em 2011, uma nova transferência. Mudei-me
para Recife e aqui estou. No ano que mudei até setembro tudo estava indo bem.
Aí então comecei a sentir fortes dores coaxiais e apareceu um abscesso perianal.
Foi quando comecei a travar outra luta. Depois do processo de drenagem apareceu
uma fístula complexa. Fiz a primeira cirurgia em Recife e não tive melhoras. Precisei
novamente passar por outro procedimento cirúrgico seis meses depois e nada.
Então, foi quando decidimos voltar o tratamento no Hospital militar do RJ para
fazer novos exames e tive consciência que a doença se localizou também na parte
perianal e passei por mais duas cirurgias de fistuloctomia. Usei um sedenho por
um ano e agora estou me recuperando da ultima cirurgia, que foi bastante
traumatizante. Mas graças a Deus deu tudo certo. Depois de dois longos anos
estou me recuperando bem.”
A mudança de
hábitos, o convívio familiar e na escola:
“Quem
tem Crohn, como qualquer outra doença crônica, precisa aprender a conviver com
os altos e baixos que os sintomas oferecem. Mesmo diante de todas as baixas
hospitalares, cirurgias e dificuldades que passei, nunca parei totalmente a minha
vida. Formei-me em Psicologia e resolvi trabalhar por conta própria, me
especializei em terapia familiar e atendo casais (às vezes precisei e ainda
preciso parar), tive meus filhos e procurei ter uma vida normal dentro dos meus
limites. Tenho um bom convívio familiar, meu marido sempre esteve ao meu lado e
sempre me deu muita força em todos os momentos difíceis. Ele sempre foi muito
companheiro e presente, o que me dá forças para suportar as lutas, assim como
minha mãe e os que estão próximos a mim. A família é fundamental para quem tem
que conviver com um problema crônico. Meus filhos são minha vida, minha família
é meu lugar seguro e sei que toda força que tenho é porque quero estar com
eles.”
Conhecimento dos
outros sobre a doença:
“As
pessoas não conhecem muito sobre as DII e então tento explicar de uma forma bem
simples não as alarmando muito. Quem está mais próximo a mim consegue entender
minhas restrições e vai conhecendo assim sobre a doença.”
Trabalhos de
divulgação ou participações em grupos sobre DII:
“Comecei
a escrever um blog no ano passado (Vencendo e Crohnvivendo). Parei mas pretendo
reiniciar. Entrei em alguns grupos de auto ajuda e sou membra da ABCD. Com todas
as minhas mudanças de cidades vou tentando encontrar pessoas que também tem DII
nos novos lugares para trocar experiências. Acho isso muito importante e nos
ajuda grandemente quando sabemos que não estamos sós. Eu sempre digo que a dor
do outro faz com que a nossa diminua.”
O tratamento
hoje em dia e como está se sentindo:
“Hoje
em dia estou usando o Humira (adalimumabe) e azatioprina, conhecido entre meus
crohnpanheiros e agora também a mesalazina supositório. Ainda faço
acompanhamento no RJ, por ser um Hospital militar e eu ter facilidade em
continuar viajando para fazer o tratamento. Faço acompanhamento psicológico e também
nutricional, parte clínica com o gastro e proctologista. Lá existe uma equipe
multidisciplinar especializada em DII e isso ajuda muito e me deixa muito segura.
Acho que um tratamento com uma equipe multidisciplinar é essencial para
portadores de DII. Que bom seria se todos pudessem ter esse tratamento.”
"Bem, hoje em dia tem sido um pouco difícil, por estar viajando muito para
tratamento e ter tido várias cirurgias em um tempo tão curto (quatro em dois
anos). Precisei parar de trabalhar. Este tem sido o período mais longo parada,
mas nunca desisti de lutar e sempre procuro estar otimista. Aprendi a lidar com
esses períodos de baixa na vida da melhor forma possível com o apoio do meu
marido, meus filhos e minha família e com muita fé em Deus. Passei a entender
que tudo tem seu tempo determinado e quando estamos vivendo tempos difíceis precisamos
ter força e fé para alcançarmos tempos melhores. Tenho consciência das minhas
limitações e restrições. Nem sempre é fácil. Às vezes nos tornamos muito
fragilizados, mas nunca desisti de lutar. Aprendi que não adianta se desesperar
e se entregar. É preciso lutar sempre e não desistir jamais.”
Esportes e a
doença de Crohn:
“Faço caminhadas e já fiz pilates. Este ano estou parada de tudo, mas
assim que for liberada voltarei as caminhadas que fazem muita diferença para
uma vida com mais qualidade.”
Dieta e a doença
de Crohn:
“Minha
dieta é bem restrita, mas aprendi a conviver para o meu bem. Tenho intolerância
à lactose e à alimentos gordurosos, com fibras e doces. Tomo ômega 3,
polivitamínicos, cálcio e vitamina D, tudo com indicação da minha
nutricionista. O acompanhamento nutricional é fundamental porque cada caso é
único e precisa de orientação profissional.”
O que gostaria
de falar para quem foi diagnosticado recentemente:
“Eu
costumo dizer que é possível crohnviver. É preciso se informar ao máximo sobre
a doença, pois quando a conhecemos, tudo fica mais fácil. Procure um médico
especialista em DII. Caso não encontre procure o Hospital das Clínicas de sua
cidade, porque lá você sempre irá encontrar um. Nunca sinta pena de você, mas
lute por você. Tenho também tentado conscientizar quem está a minha volta de que
não somos apenas portadores de uma doença crônica, mas somos seres integrais: corpo,
alma e espírito.
Precisamos cuidar do nosso corpo: ir ao médico, ir ao
nutricionista, tomar as medicações e fazer a dieta acompanhada sempre de um
profissional. Se exercitar quando possível e dentro do limite de cada um é
essencial.
Precisamos
cuidar da nossa alma: nossas emoções. Se estivermos bem emocionalmente tudo
fica mais fácil de vencer; não só a doença, mas todas as áreas da nossa vida. É
preciso entrar em contato com nossas limitações para superá-las. Fazer terapia
é muito importante, para todos!!
Precisamos
cuidar do nosso espírito: buscar a fé, viver por fé e exercitar a fé. Sem
fanatismos e equilibradamente é primordial. Viver com fé é algo que te move
além do natural. A minha fé em Deus me torna alguém mais forte e melhor a cada
dia.
Quando conseguimos colocar nosso ser integral em ação
conseguimos viver melhor, apesar das adversidades que todos enfrentam, quem tem
ou não DII.”
“Agradeço
muito a oportunidade de poder compartilhar um pouco da minha experiência. Espero
poder estar contribuindo assim com outros portadores de DII. Sei que nossa luta
continua.Então vamos continuar lutando e nos ajudando sem desistir jamais!!!”
Obrigado Denise por compartilhar a sua história conosco.
Se você também quer mostrar a outras pessoas como foi o seu desenrolar da doença, mande-nos uma mensagem (email: crohnecolite@gmail.com) que entraremos em contado.
0 comentários:
Post a Comment
Muito obrigado pelo seu comentário e/ou pergunta. Responderemos o mais rapidamente possível.