Formas da doença de Crohn
Em uma fase inicial, a extensão
das lesões pode ser tão pequena que o paciente pode não apresentar sintomas,
porém quando as lesões comprometem uma extensão maior do intestino delgado ou
cólon, as manifestações clínicas podem ser intensas. A apresentação típica
inclui o envolvimento de vários segmentos do trato gastrointestinal e a evolução
clínica da doença é, com frequência, complicada pela formação de fístulas,
doença perianal e estenoses. Essas complicações exercem, invariavelmente,
impacto sobre a qualidade de vida dos pacientes.
A doença está localizada em
íleo terminal em 47% dos casos, no cólon em 28%, na região ileocolônica em 21%
e no trato gastrointestinal superior em 3% dos casos.
Classificação em relação ao tipo da doença
- Inflamatória
(70% dos pacientes),
- Estenosante
(17% dos pacientes),
- Fistulizante
(13% dos pacientes).
Podem ocorrer complicações tromboembólicas, alterações hepáticas como
colangite esclerosante primária e outras,
alterações reumáticas, manifestações dermatológicas e
outras. As manifestações extraintestinais são mais comuns quando a doença
acomete o cólon e podem ou não guardar relação com a atividade da doença. Pelo menos
50% dos pacientes podem necessitar de tratamento cirúrgico nos primeiros 10
anos da doença e aproximadamente 70 a 80% podem necessitar de cirurgia ao longo
da vida.
Classificação em relação à gravidade da doença
- Leve
a moderada: pacientes que toleram alimentação, sem sinais de desidratação,
toxicidade, desconforto abdominal, massa dolorosa, obstrução ou perda de
peso maior do que 10% do peso.
- Moderada
a grave: pacientes que falharam em responder ao tratamento ou aqueles com
sintomas mais proeminentes de febre, perda de peso, dor abdominal, náuseas
ou vômitos intermitentes (sem sinais de obstrução intestinal) ou anemia
significativa.
- Grave
a fulminante: pacientes com sintomas persistentes a despeito da introdução
de corticoides e∕ou terapia biológica ou indivíduos que apresentam febre, vômitos
persistentes, evidências de obstrução intestinal, sinais de irritação
peritoneal, caquexia ou evidência de abscesso.
Quadro clínico
A doença
de Crohn pode manifestar-se por sintomas gastrointestinais, sintomas
extraintestinais ou a combinação dos dois. Os sintomas são heterogêneos, mas
tipicamente incluem: dor abdominal, diarreia e perda de peso. Mal estar, falta
de apetite e febre também são comuns. A doença pode evoluir para obstrução
intestinal por estenoses, fístulas ou abscessos.
Os principais
sintomas clínicos de acordo com a localização das lesões e atividade
predominante serão descritos a seguir.
Doença de Crohn na região ileocolônica (íleo + cólon)
É a
forma mais frequente da doença e os pacientes costumam apresentar dor abdominal
com ou sem diarreia e perda de peso. Quando a diarreia está presente, em geral,
é sem sangramento e varia de 5 a 6 evacuações por dia.
Os pacientes
que apresentam inflamação ou abscesso nessa região tendem a ter dor constante e
frequentemente febre, perda de peso e desnutrição. A doença pode evoluir para
suboclusão intestinal em razão da inflamação ou estenose da região, ocasionando
persistência e piora da dor. Nesse caso pode ocorrer constipação intestinal
(intestino preso), vômitos e distensão abdominal.
Quando
existe envolvimento importante do íleo terminal pode ocorrer má absorção de
sais biliares e da vitamina B12, que leva a diarreia colerética e anemia
megaloblástica, respectivamente. As estenoses podem causar estase do intestino
delgado, que é a demora excessiva da eliminação das fezes, o que causa
supercrescimento bacteriano e desenvolvimento de esteatorreia (fezes volumosas,
mal cheirosas, com aparência oleosa e flutuam na água). Podem ocorrer também fístulas
enterocutâneas, enterovesicais e enterovaginais.
Doença de Crohn no intestino delgado
Em
geral os pacientes apresentam sintomas como dor epigástrica (na parte de cima
do abdômen), barulhos no estômago e crises frequentes de diarreia, porém de
pequena intensidade. Pacientes com doença extensa podem apresentar má absorção,
esteatorreia, anemia, perda de peso e desnutrição. A diarreia é uma
característica na doença ativa. As estenoses podem apresentar quadros de
suboclusão intestinal caracterizadas por dor tipo cólica na região do umbigo
geralmente associada à ingestão de alimentos.
Também
podem ocorrer fístulas enterocutâneas ou enterovesicais. A hipocalcemia
(deficiência de cálcio), hipoalbuminemia (deficiência de albumina),
hipomagnesemia (deficiência de magnésio) e nefrolitíase (pedra nos rins) são complicações
possíveis.
Doença de Crohn no cólon
Os
pacientes apresentam surtos agudos de diarreia, dor abdominal em cólica abaixo
do umbigo que precede as evacuações, episódios de febre e sangue nas fezes.
Doença de Crohn anorretal (ânus+reto)
As manifestações
anais e perianais da doença de Crohn são muito comuns e o comprometimento dessa
região pode se manifestar bastante acentuado e debilitante. Os sintomas são dor
anorretal, ardor, dor ao evacuar, secreção purulenta perianal que suja a roupa
e, no caso de fístula retovaginal, há exacerbação dos sintomas.
O comprometimento
perianal apresenta-se frequentemente com abscessos e fístulas, que costumam ser
múltiplas, complexas e recorrentes. Pode-se apresentar também com fissuras,
úlcera anal, incontinência fecal e estenose anal.
Doença de Crohn em esôfago, estômago e duodeno
É
extremamente rara e geralmente provoca manifestações clínicas relacionadas com
essas localizações. Os sintomas mais comuns são dor abdominal na região
epigástrica (parte de cima do abdômen), dispepsia (digestão difícil),
frequentemente associada com anorexia, náuseas, vômitos e perda de peso.
O comprometimento
isolado da doença de Crohn no esôfago pode manifestar-se com disfagia
(dificuldade de engolir) por conta de estenose, odinofagia (dor ao engolir),
queimação ou dor torácica. Em casos mais avançados podem surgir fístulas
esofagobrônquica (esôfago e brônquios) ou esofagogástrica (esôfago e estômago).
Os pacientes
com comprometimento gástrico podem apresentar-se sem sintomas ou com sintomas
leves, simulando gastrite. Na endoscopia aparecem úlceras aftóides. A doença
avançada manifesta-se com vômitos e perda de peso, podem evoluir com fístulas
para o cólon com queixas de diarreia, vômitos fecaloides e emagrecimento.
Quando
o comprometimento é duodenal, o mais frequente também é o aparecimento de úlceras
aftóides e o espessamento das pregas da mucosa. As fístulas geralmente são duodenocólicas
(duodeno + cólon).
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