Outras lesões hepáticas
Neste tópico começamos
a abordar as manifestações hepáticas decorrentes das doenças inflamatórias
intestinais e falamos sobre a colangite esclerosante primária, que é a
manifestação hepática mais comum e pode ser grave. Hoje iremos falar das outras
lesões hepáticas que podem ocorrer.
Colelitíase
Também conhecida por “pedra
na vesícula” e, como o próprio nome já diz, são cálculos na vesícula biliar. É
uma manifestação comum em pacientes com doenças inflamatórias intestinais,
particularmente doença de Crohn, sendo observada em até 34% dos casos.
Entre os fatores que estão
relacionados à formação desses cálculos incluem:
- Acometimento do íleo terminal ou ressecção ileal, pois há redução na absorção dos sais biliares.
- Aumento da bilirrubina na bile.
- Aumento da circulação enterro-hepática.
- Redução da motilidade da vesícula biliar.
- Elevada frequência das exacerbações do processo inflamatório intestinal.
O sintoma mais comum é a dor
abdominal tipo cólica, intensa, localizada no epigástrio e∕ou hipocôndrio
direito, com duração igual ou superior a 30 minutos. As complicações mais
frequentes decorrem da obstrução do ducto cístico, colecistite aguda ou
migração dos cálculos para a via biliar principal, causando icterícia
obstrutiva, colangite e∕ou pancreatite aguda.
O tratamento não difere
daqueles pacientes que não tem doença inflamatória intestinal. Na imensa maioria
dos casos o cirurgia é o mais indicado e as complicações deste procedimento são
raríssimas. Normalmente é feito por laparoscopia, que é bem menos invasiva e
traz uma rápida recuperação.
Lesões hepáticas induzidas por drogas
As medicações empregadas para
o manejo da doença inflamatória intestinal podem se associar a graves lesões
hepáticas induzidas por drogas, porém a frequência é bem reduzida. No outro
tópico vimos que é comum a elevação de enzimas hepáticas, mas são
assintomáticas.
A sulfassalazina e, menos
frequentemente, o 5-ASA podem causar hepatite aguda e hepatite granulomatosa. A
azatioprina também pode causar hepatite aguda, além de doença auto-oclusiva,
hiperplasia nodular regenerativa e peliose hepática.
As medicações biológicas
(infliximab e adalimumab) também podem se associar à elevação discreta de
enzimas hepáticas. O metotrexato pode se associar ao desenvolvimento de
esteatose macrovesicular e fibrose hepática. O risco de desenvolvimento de
cirrose é dose-dependente.
Doença hepática gordurosa não alcoólica
A esteatose e
esteatose-hepatite não alcoólica podem ser observadas em até 35% das biópsias
realizadas em portadores de doenças inflamatórias intestinais. Estão
habitualmente associadas a atividade da doença, presença de desnutrição, uso de
corticosteroides e proctocolectomia com reservatório ileal.
Trombose de veia porta
A trombose venosa portal é
complicação rara da doença inflamatória intestinal, com prevalência de 0,1 a
1%, incidência maior do que na população geral. Pode levar a hipertensão no
sistema portal, redução do fluxo sanguíneo para o fígado e isquemia no
intestino delgado. É mais observada após a realização de cirurgias abdominais e
é considerada uma manifestação extra-intestinal associada ao estado
pró-coagulante desencadeado pela inflamação crônica.
Os sintomas são dor
abdominal, náuseas e vômitos, mas o episódio agudo está associado a sintomas
inespecíficos, o que dificulta o diagnóstico. Falando nele... o diagnóstico é
feito por ultrassonografia abdominal ou ressonância magnética de abdome. O
tratamento varia de caso para caso, mas usualmente a anticoagulação está
indicada. Pode ser necessária a trombectomia, uma cirurgia menos invasiva para
retirada do trombo.
Abscesso hepático bacteriano
É outra complicação rara e
sua origem não está completamente elucidada. Dentre as possíveis causas estão
cirurgia abdominal, uso de corticoide, imunossupressores, doença penetrante,
fístula e abscesso intra-abdominal. Os sintomas se confundem com a exacerbação
da doença inflamatória intestinal (febre, dor abdominal, queda do estado geral,
perda de peso) e por isso o diagnóstico costuma ser tardio. O diagnóstico é
feito por exames laboratoriais e de imagem (ultrassonografia, tomografia
computadorizada, ressonância magnética). O tratamento é feito com medicações
antimicrobianas.
Abscesso hepático asséptico
É raro não está
necessariamente associado à atividade da doença. O mecanismo para formação é
através da resposta humoral e celular. Manifesta-se por febre, perda de peso,
dor abdominal, resposta inflamatória sistêmica e o diagnóstico também é feito
por exames laboratoriais e de imagem. O tratamento baseia-se no uso de
corticoide e imunossupressores.
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